segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Fim de cruzeiros diários da Douro Azul tira milhares de passageiros à CP

Público
Carlos Cipriano
26/11/2012
Opção por cruzeiros não diários leva empresa de turismo fluvial a prescindir dos serviços da CP. Mário Ferreira diz que a transportadora ferroviária não é sensível às necessidades de operadores e passageiros

A empresa de turismo Douro Azul vai acabar com os cruzeiros diários porque quer apostar num segmento de luxo com passeios fluviais de mais de um dia e, com isso, vai tirar milhares de passageiros à CP.

A Douro Azul utiliza o comboio como meio de transporte complementar dos clientes dos cruzeiros de um dia. Em 2012, a operadora turística transportou 57 mil passageiros, dos quais 45 mil viajaram de comboio entre Porto e Régua para realizar a viagem de ida ou de regresso.

"No próximo ano julgamos que a importância da CP para a nossa actividade será reduzida, ou mesmo nula, uma vez que deixaremos de operar com barcos diários", diz Mário Ferreira, administrador da Douro Azul, que tem um rol de queixas da transportadora pública, que acusa de ser incapaz de responder aos pedidos de comboios especiais e de carruagens extra, nos picos de movimento turístico. Muitas vezes a solução foi transportar os clientes de autocarro. Apesar de o fim dos cruzeiros diários se dever a uma nova estratégia da empresa, Mário Ferreira acusa a CP de criar "muitos obstáculos", comunicar "mal" e não ser "sensível às necessidades dos operadores e dos passageiros".

O administrador diz que "a maioria das reclamações que recebemos em 2012 não se refere aos serviços da Douro Azul, às viagens de barco, mas sim às viagens de comboio". O empresário acrescenta que a imagem que a CP dá aos clientes é "péssima", dado o "número absurdo de pessoas que viajam de pé", incluindo idosos, grávidas e pessoas com crianças ao colo. Tudo isto, explica, porque a CP não disponibiliza comboios em número suficiente e vende bilhetes de grupo em overbooking.

Outra queixa são os vidros completamente "grafitados" das carruagens, o que é particularmente grave em viagem cujo objectivo principal é mesmo apreciar a paisagem do rio que corre ao lado da via férrea.

"Infelizmente estas situações coincidem com avarias do ar condicionado e o que poderia ser uma viagem agradável transformava-se num autêntico pesadelo", comenta ainda Mário Ferreira.

CP contra-ataca

 Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial da CP reconhece que esta transportadora "não tem um conjunto de recursos permanentemente à disposição dos operadores turísticos para a eventual possibilidade de realização das viagens de última hora". E diz que, por razões de segurança e logística, é necessária pelo menos uma semana de antecedência para se pedir um comboio especial, algo que nem sempre era feito pela Douro Azul.
A empresa ferroviária garante que faz sempre o seu "melhor preço", quando lhe pedem orçamentos e que presta serviços "com preço abaixo de custo para proveito dos privados". Uma política que, segundo a CP, é considerado pela cliente Douro Azul como "factor de criação de dificuldades e pouca flexibilidade".
A CP até admite que "ocorreram algumas situações de sobrelotação de comboios, agravadas num ou noutro caso com a avaria do sistema de ar condicionado", mas vinca que já deu indicações à manutenção para evitar a repetição dessas anomalias.
Quanto aos comboios sobrelotados, explica que aconteceram em alturas em que grupos adquiriram bilhetes simples na bilheteira, em cima da hora, impossibilitando assim qualquer tentativa de reforço da oferta com mais uma unidade automotora.
A CP também tem queixas dos operadores turísticos. Alega que, "muitas vezes, não cumprem os contingentes de lugares adquiridos (...), devido a procura de última hora, o que origina sobrelotações com natural impacto nas condições de conforto dos restantes clientes que compraram bilhete de igual valor ou superior ao pago pelo operador turístico". Situação que, lamenta, "contribui para degradar a imagem do serviço da CP".

Comboio turístico do Vinho do Porto

 Em 2004, a CP investiu um milhão de euros na modernização de carruagens antigas para fazer o Comboio do Vinho do Porto, mas este só circulou durante três anos. Está estacionado desde 2007 em Contumil, no Porto. Voltar a pô-lo em estado de marcha custa centenas de milhares de euros e a CP diz que, para tal, era necessário que os operadores turísticos lhe garantissem uma procura mínima. "Os operadores não aceitam assumir compromissos de compra antecipada para uma temporada", diz a CP, lamentando que aqueles prefiram utilizar os comboios regulares (mais baratos, mas menos confortáveis) para viagens de grupo. E aponta o dedo à Douro Azul, que poderia ter potenciado o Comboio do Vinho do Porto, mas preferiu, precisamente entre 2005 e 2007, duplicar as viagens de grupo em comboios regulares. Mário Ferreira responde que "a Douro Azul poderia ter contribuído para o sucesso desse comboio aquando do seu lançamento, mas a CP decidiu, na altura, optar por uma estratégia diferente" da do operador turístico".




1 comentário:

  1. Fim à vista da Linha do Douro a partir da Régua, i.e., fim do turismo em caminho-de-ferro em Portugal, já que o que vai restando é muito curto…
    Afinal os governantes tinham razão: o CF não serve para nada e ainda bem que as estreitas morreram! E olha, Mexia, sem linha do Douro para passageiros, para que precisas de um funicular no Tua? Já viste? Vais poupar dinheiro e quem sabe os chinocas dão-te mais 3,5 milhões dele. Isso, ou vais parar às 3 gargantas para acabar com a miséria por ela provocada, incluindo os terramotos! Tu és tão bom que decerto arranjarás um Gonzo para cantar uma música de embalar.
    Nunca vi em lado nenhum uma empresa ter, à volta da sua actividade, pessoas que se interessam (sem interesses e com boas ideias e até com cruzeiros) pela sua sustentabilidade e crescimento. A CP é gerida (gerida? Deixem-me rir) por incompetentes que acham que atrelar uma coisa noutra precisa de 15 dias de antecedência. Devia ter sido a CP, em regime de parceria, a ir ter com os operadores e ambos criarem sinergias que potenciassem ainda mais o Douro Vinhateiro. Ver vinhas através do vidro (limpo) de uma carruagem, não estraga as mesmas, nem é danoso para o ambiente de um lugar que precisa de preservação (exceptuando as barragens do Mexia que são sempre bem-vindas!).

    É INACREDITÁVEL o que se tem feito em Portugal pelo caminho-de-ferro! E como todos os roubos que nos colocaram nesta posição fragilizada, vulgo crise, vemos os comboios passar e parece nada fazermos! Dói!

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